segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Tendinite e Tendinose do Tendão Calcâneo

O tendão calcâneo, popularmente chamado de tendão de Aquiles, é o tendão mais espesso e resistente do corpo humano. Ele é formado pela porção tendinosa dos três ventres musculares que formam a panturrilha, o gastrocnêmio medial, o gastrocnêmio lateral e o solear. Na sua porção mais baixa insere-se no calcâneo (osso do calcanhar).



Em sua área de inserção no calcâneo existem duas bursas (bolsas de líquido): uma entre o osso e o tendão, e outra entre a pele e o tendão; relacionadas muitas vezes com processos inflamatórios e dor localizada nesta região (bursite).


O tendão calcâneo é o mais importante tendão flexor do tornozelo. Sua ação é primordial para o desprendimento do pé na marcha, para dar arrancada e força na corrida e no salto. Além disso, ele absorve grande parte do impacto na fase de aterrissagem após o ato de saltar.


 A inflamação do tendão calcâneo (tendão de Aquiles) é bastante frequente e é queixa comum entre as pessoas com sobrepeso e em atletas, principalmente os corredores e saltadores.

Existem vários fatores que predispõe ao aparecimento do processo inflamatório desse tendão: sobrepeso, idade avançada, características anatômicas (pé cavo, deformidades do calcanhar), despreparo físico (encurtamento tendíneo, diminuição de força e flexibilidade), atividades de impacto ou de movimentos repetitivos do tornozelo e calçados inadequados que apertam e machucam o calcanhar.

A tendinite é um processo inflamatório agudo, de início repentino. Apresenta inchaço e dor, principalmente aos esforços ou nas atividades físicas que envolvem o tendão acometido, causada por pequenas lesões (microrrupturas) na estrutura do tendão.

O termo tendinose refere-se a um processo inflamatório de evolução mais prolongada, mais crônica. Apresenta, muitas vezes, degeneração importante do tecido tendíneo com grande risco de ruptura total do tendão.

As alterações inflamatórias podem ocorrer no local de inserção, onde o tendão prende-se ao osso calcâneo (tendinite insercional), ou um pouco mais acima, na sua porção mais proximal (tendinite não-insercional).


A tendinite insercional ocorre junto ao osso do calcanhar e muitas vezes está relacionada às deformidades da proeminência superior e posterior do calcâneo (Deformidade de Haglund) ou a formação de calcificação interna do tendão (esporão).

A tendinite não-insercional acomete a porção média do tendão calcâneo, aproximadamente entre 2 e 6 cm acima de sua inserção.

Inicialmente a dor é mais intensa nos primeiros passos da manhã e durante ou após a realização de atividades físicas. Porém, com o aumento da lesão e do processo inflamatório envolvendo o tendão, a dor pode ser recorrente aos mínimos esforços ou tornar-se constante, mesmo em repouso.


Deformidade de Haglund:


A deformidade de Haglund é uma proeminência óssea do calcâneo que está associado com a tendinite insercional por mecanismo de impacto repetitivo contra o tendão calcâneo (tendão de Aquiles), quando coexistem chamamos de síndrome de Haglund.

Essa deformidade ocorre por variação anatômica, não é uma doença. Pode estar presente e nunca apresentar sintomas ou desconforto.



Calcificação Intratendínea (Esporão do Tendão de Aquiles):

A calcificação intratendínea, popularmente chamada de esporão do tendão de Aquiles, forma-se por uma alteração celular degenerativa das fibras do tendão. Isto ocorre pela alternância, durante um longo período de tempo, entre os processos de inflamação, microrruptura e reparo local. Portanto, a constante tentativa de cicatrização de uma lesão crônica do tendão leva à sua degeneração e calcificação local de suas fibras.



O diagnóstico de tendinite e tendinose do tendão de Aquiles é feito pelo relato da história pelo paciente e através do exame físico ortopédico.

As radiografias do tornozelo servem para avaliar as calcificações ao longo do trajeto do tendão, assim como erosões ósseas e a deformidade de Haglund do calcâneo quando presentes

 

Embora a ultrassonografia seja útil no diagnóstico de doenças tendíneas, a ressonância nuclear magnética é o melhor exame para avaliar as condições teciduais do tendão de Aquiles, possibilitando visualizar o grau e a extensão do processo degenerativo, calcificações e pequenas rupturas com melhor definição e maiores detalhes. 

 

O tratamento, na grande maioria das vezes, é conservador. Baseia-se no uso de anti-inflamatórios orais, gelo, imobilização, exercícios de alongamento e fisioterapia.

A fisioterapia é essencial para o tratamento conservador. Ela deve ser realizada com frequência e persistência. Um bom programa de alongamento da panturrilha e do pé é essencial, além da orientação fundamental ao paciente para realização desses exercícios diários em casa.



Pode ser utilizado uma órtese noturna ao nível da perna e do pé – “Night Splint” – para manter o alongamento do tendão calcâneo e da musculatura posterior durante a noite. Essa órtese melhora consideravelmente a dor matinal, a forte dor que ocorre nos primeiros passos da manhã.


 A infiltração é contraindicada pela ocorrência de lesão mecânica da agulha e lesão química ocasionada pelo uso de corticóide diretamente no tendão, podendo ocorrer aumento da degeneração, ruptura e até mesmo infecção.

O tratamento através da utilização de ondas de choque vem sendo empregado em algumas clínicas. O custo do tratamento é elevado e não há ainda estudos que indicam a sua utilização em casos iniciais. Sua utilização foi aprovada pelo FDA americano somente em casos crônicos, onde a dor persiste após 6 meses a 1 ano de tratamento bem realizado e orientado, e tem uma variação de 50 a 80% de bons resultados.